Endometriose

Endometriose

Esta é uma doença realmente enigmática; ninguém sabe a sua causa.
O nome “endometriose” vem de endométrio, uma membrana que reveste a cavidade uterina, onde o embrião irá se implantar.
A partir do início do ciclo menstrual, o endométrio se desenvolve e sua espessura aumenta. Vasos sanguíneos e glândulas proliferam para receber e nutrir o embrião. Se a mulher não engravida, o endométrio descama. Um pouco deste sangue menstrual pode refluir pelas tubas e cair na cavidade pélvica. Isso ocorre em praticamente todas as mulheres.
O sistema imunológico, o mesmo que nos defende de bactérias e vírus, realiza então, a limpeza das células endometriais e do sangue que está em contato com o intestino, a bexiga, o útero, os ovários, as tubas e o peritônio, a membrana que reveste a cavidade abdominal. Nas mulheres com endometriose, o sistema imunológico é incapaz de realizar essa limpeza, seja por questões genéticas, por estresse ou porque a menstruação é muito abundante.
Sem uma limpeza eficaz, as células endometriais começam a se proliferar em um local inadequado. Desenvolve- se uma reação inflamatória, que libera substâncias tóxicas para os óvulos e os espermatozoides, diminuindo sua capacidade de fertilizar. Acredita-se que a capacidade dos embriões de se implantar também seja diminuída. Assim como acontece quando nos cortamos ou sofremos uma queimadura, após a inflamação inicial forma-se uma cicatriz; com o agravamento da endometriose, cicatrizes internas podem se formar e colar o intestino no útero, nos ovários ou nas trompas. É o que se denomina aderência. As aderências provocam oclusão das tubas uterinas e contribuem para a infertilidade.
É dessa maneira que essa malfeitora agride a mulher, deteriorando a sua fertilidade ou causando dores.
Acredita-se que de 6 a 10% da população, em geral, tenha endometriose. Da população infértil, até 40% tem endometriose e, quando outro fator (por exemplo, anovulação) é tratado e a mulher não engravida, em até 70% dos casos há possibilidade de que a mulher tenha endometriose.

CONCEITOS QUE NÃO SÃO VERDADEIROS

A endometriose só ocorre em mulheres com mais instrução e com idade superior a 30 anos.

Não ocorre em negras.

Não ocorre em adolescentes.

Só é observada em mulheres que nunca tiveram filhos.

Gravidez cura endometriose.

SINTOMAS DA ENDOMETRIOSE

A maioria das mulheres não apresenta sintomas, salvo a infertilidade. Porém, a endometriose pode causar cólicas menstruais, que vão se tornando cada vez mais intensas e duradouras, transformando a vida da mulher em um tormento. Esse tipo de cólica melhora pouco com o uso de anticoncepcionais. É preciso diferenciá-la da cólica normal da mulher, que surge desde os primeiros ciclos menstruais e dura até no máximo três dias por ciclo. Esse tipo de cólica tem sempre a mesma intensidade desde a adolescência e está relacionada ao fenômeno da ovulação. Ela é normal e desaparece ou diminui muito com o uso de anticoncepcionais.

A maior parte das mulheres que se queixa de cólicas não tem endometriose. Uma característica paradoxal da endometriose é o fato de que a intensidade da dor não é um indicador válido da severidade da enfermidade. Algumas mulheres com endometriose extensa não apresentam absolutamente dor nenhuma, enquanto algumas com endometriose mínima relatam dores fortíssimas.

Dor durante a relação sexual (dispareunia)

A endometriose pode produzir dor durante a relação sexual, uma condição conhecida como dispareunia. A dispareunia pode resultar de implantes de tecido endometrial sensíveis, na base da pelve, próximos à porção superior da vagina, ou por aderências dos órgãos pélvicos. Geralmente a dor tem caráter progressivo e ocorre na parte profunda da vagina, mais em determinadas posições do que em outras.

Sangramento uterino anormal

A maioria das mulheres que tem endometriose não relata anormalidades na menstruação. Ocasionalmente, a doença pode levar ao sangramento vaginal em intervalos irregulares. A endometriose pode ocorrer nos intestinos, na parede da bexiga, nos pulmões ou em cicatrizes cirúrgicas. Raramente esses cistos liberam sangue dentro da bexiga, do intestino e dos brônquios durante o ciclo menstrual, causando sangramento na urina, nas fezes ou ao tossir.

Infertilidade

Embora os sinais e sintomas anteriores sejam frequentes, a mulher pode ter endometriose sem sentir nada. Em alguns casos, a infertilidade é o único sintoma. De fato, em nossa clínica, pelo menos metade das pacientes não apresenta nenhum sintoma além da infertilidade.

Diagnóstico

O médico pode suspeitar da doença, caso a mulher tenha infertilidade, cólicas menstruais ou dores durante as relações sexuais.

Exame pélvico

Certos achados em um exame ginecológico podem levar o médico a suspeitar de endometriose. Um sinal que sugere o diagnóstico é a sensação de nódulo palpável no fundo da vagina. Outro sinal característico da endometriose, embora não seja exclusivo, é o útero desviado para trás e fixo, o chamado útero retrovertido. No exame de toque, o médico pode perceber isso.

Ultrassonografia

Quando cistos cujo conteúdo sugira sangue são visualizados no ultrassom, pode-se suspeitar de endometriose, especialmente se a mulher tem os sintomas.

CA 125

Esta é uma substância que pode se elevar quando a mulher tem endometriose e o exame de sangue detecta sua concentração. Porém, em muitos casos em que a mulher tem endometriose, o CA125 está normal. Por outro lado, várias outras condições além da endometriose alteram o CA125: câncer do ovário, mioma, gravidez, tuberculose. Portanto, esse não é um bom método para diagnóstico, mas sim para avaliar a efetividade do tratamento, quando se espera que os níveis de CA125 abaixem.

TRATAMENTO

O tratamento da endometriose depende do grau da doença e da idade da mulher. Os graus mais leves podem ser tratados por meio da videolaparoscopia, da excisão, de um procedimento chamado lise de aderências e de cauterizações das lesões. Depois pode-se apenas aguardar que a paciente engravide, pois o simples ato cirúrgico já impulsiona a fertilidade. Outra medida é estimular a ovulação para aumentar a fecundidade. Caso isso não surta efeito, deve- se tentar a inseminação artificial ou, no malogro desta, a fertilização in vitro. Graus mais severos, especialmente se as trompas estão obstruídas ou a paciente tem mais de 35 anos, devem ser tratados pela fertilização in vitro. É preciso lembrar que, nas mulheres de mais idade, somam-se dois fatores deletérios: a endometriose e a idade. Alguns médicos preferem repetir várias videolaparoscopias e utilizar medicamentos que causam muitos efeitos colaterais, como nos casos em que a mulher está na menopausa. Só defendemos essa conduta quando a queixa principal é a cólica ou dispareunia. Nos casos cujo objetivo é tratar a infertilidade, evitamos o uso desses medicamentos; só os prescrevemos em raras exceções, e nos furtamos de fazer várias videolaparoscopia pelos riscos do procedimento. Quanto mais os ovários são cauterizados, mais se destrói a população de óvulos; isso implica predispor a paciente até mesmo a uma menopausa precoce. Vale lembrar que a endometriose só causa esterilidade (impossibilidade total de conceber) quando ela destrói ou obstrui as tubas uterinas. Nos demais casos, ela ocasiona subfertilidade, ou seja, a gravidez não é impossível, mas é mais difícil. Pode levar muito mais tempo ou mesmo não acontecer.

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